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Inocência
Inocência
Há muito, mas muito tempo atrás quando eu era pequena fiz muita trela e tudo o que as crianças de minha idade faziam. Algumas delas relembro com muito carinho e, chego a chorar de saudade quando conto aos meus amigos ou a minha pequena.
Fazíamos coisas tão inocentes que me mostram claramente a diferença entre mim e a minha filha, na mesma idade.
Hoje em dia, crianças com oito anos de idade, já não são mais tão inocentes como eu era.
Um dia normal, depois de chegar da escola, fazer a tarefa de casa e tomar banho, discuti com os meus irmãos e tomei uma decisão: Iria fugir para nunca mais voltar.
Ninguém iria me encontrar e resolveria o meu problema. Não teria mais irmãos para baterem em mim.
Imediatamente, num daqueles repentes que criança tem, rasguei uma folha do meio do meu caderno de Ciências e fiz uma carta para a minha mãe.
Querida mamãe,
Eu já tenho sete anos já não agüento mais ficar nesta casa e viver brigando com esses irmãos que não gostam de mim. Eu só lhe dou trabalho, e eles só me batem porque são maiores.
Então resolvi fugir e nunca mais voltar. Eu vou pra um lugar bem longe onde nunca ninguém vai me encontrar.
Lá eu vou ser muito feliz e também vou encontrar uma família bem legal que vai cuidar de mim.
Eu vou sentir muita falta de você e do papai, mas eu agüento.
Estou levando o meu cheirinho de dormir, minha boneca de pano Elisa e minha escova de dente. Eu não estou descalça.
Não se preocupe, irei pra casa do vovô.
Passei o batom da minha irmã bem vermelho e fiz uma marquinha de beijo na cartinha, coloquei em cima da cama da mamãe e fui embora.
Nada pra se preocupar, não fosse o local onde o meu avô morava. Pois para chegar até lá teria que atravessar uma avenida muito movimentada e nós todos éramos terminantemente proibidos de ir lá sozinhos.
Ao sentirem a minha falta, todos começaram a me procurar.
Foi um alvoroço.
Pensavam entre eles para onde eu poderia ter ido. Até encontrarem a cartinha.
Amelinha fugiu! Disse a minha mãe chorando. A minha filhinha fugiu de casa.
Aquilo foi um terror.
O engraçado é que a mamãe leu o bilhete, o papai leu o bilhete, os meus irmãos também leram e ninguém sabia onde me encontrar.
Já se passava das 18h, quando a mamãe apareceu na sala sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
Todos pararam e, sem entender perguntaram o que havia acontecido.
O que deu em você, mulher? , perguntou o meu pai ainda irritado.
A minha mãe leu a cartinha em voz alta e ao perceber que ainda assim ninguém percebeu a pista, disse:
Todos nós somos desligados. O tempo todo ela nos disse onde estaria e nós não vimos.
E leu apenas o texto onde dizia:
Não se preocupe, irei pra casa do vovô.
Então todos correram para lá. Mas isso não ficou de graça. Naquela época as palmadas eram liberadas e eu dormi com a bunda quente.
Mesmo assim, até hoje eu respeito, quero muito bem, tenho muito carinho e amo muito a minha mãe. Nunca deixei de respeitá-la ou amá-la por causa das palmadas.
Amélia Aragão
Enviado por Amélia Aragão em 06/08/2010
Alterado em 06/08/2010
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