Amélia Aragão
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Textos
As conversas no salão de beleza, começam por vários motivos, e, não é necessário conhecer a outra pessoa com quem se está conversando.
As conversas começam quando do bom dia, ou de um comentário qualquer, uma revista..., aliás, revista é um dos melhores meios de se iniciar um bom papo, e, no salão é o que mais tem. Revistas para todos os gostos. Tem revista que não atende ao gosto de ninguém, pois se mantém inteirinhas por um longo tempo. Como se ninguém nunca as folheasse. Nem para passar o tempo. Não me interesso por quase nenhuma, a não ser pelas palavras cruzadas que algumas têm e ninguém sabe fazer... brincadeirinha, é que parece que só interessam as fofocas mesmo.
Pois é, de vez em quando, parece que encontramos a pessoa certa para conversarmos é como se já nos conhecêssemos há muito tempo, e o papo é tão bom,tão bom, que contamos, em fração de segundos toda a nossa vida, com detalhes impressionantes que nos surpreendemos e quando percebemos... Já é tarde demais.

Não que eu não goste de ouvir. Eu já falei aqui que adoro ir ao salão e eu adoro a cumplicidade. Acho que enriquece tanto do ponto de vista pessoal, como profissional. Sem falar que o resultado disso pode ser um texto interessante de se ler.
Semana passada conheci Roseana (nome fictício), que desabafou comigo, em pouco mais de 90 minutos uma história de arrepiar. Eu sei que isso acontece todos os dias, nas melhores famílias, nas novelas, (eu não vejo), mas sei que abordam muito esse tipo de coisa.
No começo, era como se fosse segredo, mas pelo menos quatro pessoas estavam de ouvidos bem atentos para aquela história.
Então, Roseana contava com entusiasmo, que acabara de conhecer o amor da vida dela e que começara a evitar o marido com quem estava casada há mais de 11 anos, de uma hora para outra.
Até então, segundo ela não havia rolado nada entre eles, apenas uma meia dúzia de encontros no colégio dos filhos antes da hora da saída.
Roseana estava mesmo enfeitiçada. Falava pelos cotovelos e parecia muito segura de si. Se gabava muito de ter independência financeira, ser realizada profissionalmente, mas dizia que não conhecia a felicidade e que aquele novo amor, seria a porta de saída de uma vida de negação, para uma nova vida.
Aproveitou para apontar as falhas do marido, que se sentia controlada e que vinha percebendo umas mudanças na vida dela e achava que isso era porque estava se sentindo gente.
Esse novo homem é quem lhe dava forças para renovar-se, parecia uma injeção de coragem. Disse que antes se achava velha e que não tinha vontade sequer de comprar roupas novas, se produzir e mostrar quem realmente era. Achava-se velha e queria fazer um up grade no visual, se valorizar. E mudar um pouco. Acrescentou que o marido nem percebera essas mudanças.
Perguntei-lhe sobre as crianças e sem demora falou que já havia um esquema organizado e que não seria difícil de encaixá-los em mais uma mudança. Roseana disse que tinha apenas 43 anos e aparentava mais, pois se sentia sufocada sem muitas opções, sem muito estímulo.
Interrompendo mais uma vez aquele falatório, perguntei se já havia parado para conversar com Sérgio (nome fictício), seu marido sobre suas novas decisões e, para aminha surpresa, ela disse que assim como aconteceu de repente e por acaso com ela, o marido saberia da mesma forma. Para arrematar a sua convicção quanto a não traição, acrescentou: “ninguém é de ninguém”.
Engraçado, eu também acho que ninguém é de ninguém e, por isso mesmo comentei que ela deveria colocar tudo em pratos limpos com o marido Sérgio.
Mas como é só uma conversa de salão, e transformou-se numa crônica, é só para ser lida.
 
 
Amélia Aragão
Enviado por Amélia Aragão em 01/12/2008
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